Política de paridade não deve ser alterada até posse de novo conselho, dizem fontes da Petrobras

Por Fernando Castilho 5 Min Read

Fontes da Petrobras que participaram de reunião com integrantes do governo Lula (PT) na sede da estatal na segunda-feira (27) afirmaram que não há “esforço fora da curva”, “solução mágica” ou “proposta milagrosa” do governo federal para diminuir o impacto da reoneração dos impostos federais sobre gasolina, gás veicular e etanol.

Ao contrário, disseram que a Política de Paridade de Preços de Importação está mantida e não será alterada por enquanto, pelo menos até a posse do novo Conselho e da nova diretoria, prevista para abril.

Instituída em 2016, a PPI prevê que a Petrobras alinhe os valores que cobra das distribuidoras pelo combustível ao que é cobrado pelas importadoras que trazem o petróleo refinado em forma de diesel e gasolina para o Brasil.

A posição da cúpula da petrolífera é oposta à do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que sugeriu à jornalistas na noite de segunda que haveria uma margem para que a própria Petrobras absorvesse parte da alta prevista.

“Na prática, significa que a atual política de preços da Petrobras tem um ‘colchão’, e ele pode ser utilizado”, declarou.

Interlocutores da companhia disseram à CNN que não há qualquer colchão e que as mudanças eventuais de preços serão feitas respeitando a atual política.

No último levantamento da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina vendida pela Petrobras estava 20 centavos mais cara do que a cobrada por importadores. Acontece que essa referência não é seguida pela estatal, que entende que a conta favorece os importadores.

Nesse sentido, é praticamente impossível, na leitura desses interlocutores da companhia, amortizar a alta prevista de quase 70 centavos no litro da gasolina com a volta da cobrança dos impostos federais.

Para especialistas ouvidos pela CNN, o impacto na inflação com o aumento da gasolina deve ser de 0,75 ponto percentual, uma alta significativa.

Numa lógica razoável, especialistas entendem que a Petrobras poderia não repassar os 70 centavos por litro que viriam com a cobrança de impostos, mas sim uma fatia disso, já que o preço está mais alto que o das importadoras e há uma camada de gordura para cortar.

A CNN apurou ainda que, durante o encontro, que durou pouco mais de duas horas, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), disse que o problema não estava resolvido, nem internamente e nem externamente à Petrobras e que o governo precisaria ter isso em mente.

A reunião contou com a presença do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), com o número 2 do ministério da Economia, Gabriel Galípolo, além de Prates e diretores da estatal.

Prates é defensor de um colchão, batizado por ele de “fundo de estabilização dos preços”. Ele entende que é preciso haver um mecanismo para subsidiar a venda de combustíveis, sem causar prejuízo à Petrobras, em momentos de crise internacional, como a altar do dólar ou do barril de petróleo.

Na segunda-feira, o ministério da Fazenda soltou uma nota afirmando que a reoneração dos combustíveis estava mantida, mas sugerindo que poderia haver mudanças no cálculo tributário. O governo, no entanto, não detalhou como seriam as mudanças.

Uma reunião foi marcada para as 9h30 desta terça (28) com a presença do presidente Lula e dos ministros da Fazenda, Casa Civil e Minas e Energia.

Dividendos em xeque

Outra polêmica envolvendo a Petrobras entra em debate nesta semana. Na quarta-feira (1º), os conselheiros da companhia vão decidir o que será feito com o lucro da estatal no quarto trimestre de 2022.

Eles terão acesso ao balanço da companhia antes da divulgação oficial dos resultados, como de costume.

O governo do PT defende pagamentos menores a quem tem ações da Petrobras e mais investimento interno na companhia. Conselheiros e diretores, no entanto, não estão dispostos a mudar a política de remuneração dos acionistas.

As reuniões do conselho já começam nesta terça-feira (28), com a discussão de outros temas relativos ao dia-a-dia da empresa. O encontro está marcado para as 9h da manhã.

Uma coletiva de imprensa está prevista para divulgar os resultados na sequência das deliberações do Conselho de Administração.

Essa deve ser a primeira interação pública do presidente Jean Paul Prates com jornalistas depois de assumir o comando da petrolífera. Ele tem se recusado a dar entrevistas por alegar estar no “período de silêncio”, que acabaria nesta quarta.

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